domingo, 21 de fevereiro de 2010

Pedro Pintro

Diferentes formatos e tamanhos são os principais trunfos de marketing do artesão

Um ex-garçom vende caminhões e carretas de brinquedo em viagens esporádicas que faz à Região Metropolitana de Belém (RMB). Enquanto espera os clientes à margem da BR-316, em Ananindeua, sob uma temperatura alta, ele passa o tempo com um hábito pouco comum entre os ambulantes: Pedro Pintro, um paranaense de 42 anos, lê clássicos como 'Ana Karênina', do russo Tolstoi e 'O Mundo de Sofia', do norueguês Jostein Gaarden – e se diz familiarizado com textos de filósofos universais como Sócrates, Aristóteles e Platão. 'Não consigo ficar de graça no Mundo', disse ele, que até os 37 anos 'era da roça'.

Um de seus trunfos para ter sucesso a cada jornada diária é contar com a fascinação causada pelos formatos e tamanhos e atrair o público. 'A economia brasileira é movimentada por caminhoneiros', lembrou o vendedor, justificando a preferência dos modelos para uma boa comercialização não só no Pará, mas em Estados da região Nordeste e outros pontos do País.

Seus produtos são carros de madeira, feitos artesanalmente, de um metro de comprimento, nos modelos bitrem e baú, com estampas e funções diferentes. A produção é feita em Araruna, no interior do Paraná, por jovens de um tipo de associação que profissionaliza na marcenaria e serigrafia, com apoio de organismos sociais, adolescentes sem chances no mercado formal de trabalho.

'Evita-se que estejam na rua fazendo o que não devem', diz Pedro Pintro, que na semana passada venceu os 600 quilômetros de distância até o Pará trazendo num caminhão-baú 300 unidades da mercadoria. Para o próximo mês, um forte grupo empresarial do Estado encomendou 1.500 peças.

O negócio promete se expandir, evitando que o ex-garçom deixe de vender os carros debaixo de sol inclemente. Do trabalho atual fazem parte certos sacrifícios, como usar carretas de verdade, que param em postos e dirigidas por conhecidos, como um local de descanso, já que não há recursos para alugar sequer um quarto modesto de hotel.

Até pouco tempo atrás, em Curitiba, Pedro Pintro cansou de procurar emprego e não achar. 'Não existe mais serviço lá para pessoas da minha idade', lamentou ele, que tira da renda dos caminhões e carretas – um trabalho que já desenvolve ao longo de quatro anos – o sustento da família: sua mulher auxilia na renda doméstica trabalhando numa confeitaria na terra de origem. Uma das filhas, de 18 anos, é acadêmica do curso de Pedagogia. A outra menina do casal tem apenas doze anos.

Se vale o sacrifício? 'Não tem outra coisa, né?', responde ele, que em 1984 chegou a fazer vestibular para Administração, mas por fim achou que tornar-se agricultor seria melhor. No entanto, as condições climáticas no Paraná na época, com geadas, além da falta de melhores planos de incentivo do governo mostraram que havia feito a escolha errada.

Pedro Pintro, que acabou vendendo no início desta semana toda a produção que trouxe a Belém para um comerciante de Ananindeua, declarou que um dia pretende abandonar a venda de carretas e caminhões e, mais tranqüilo social e economicamente, cursar Direito para atingir o posto de juiz por meio de um concurso. 'A Justiça precisa de uma reforma, tem muita coisa errada por aí', criticou, desalentado.

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